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eu trouxe hoje estes dois DVDs para mostrar, na Sala da
Presidência, aos colegas da bancada do PFL, aqueles colegas que
não apareceram, que não deram importância a isto aqui. Não
peço, de maneira alguma, se bem que merecesse, que acreditem em
minhas palavras. Eu gostaria que todos assistissem a estes
DVDs, onde há declarações de cientistas de todas
nacionalidades, falando da inoquidade, da inutilidade, para não
falar na crueldade, na desumanidade, enfim, todas estas coisas
que só enfraquecem qualquer tipo de discurso neste tipo de
assunto. Gostariam muito que os senhores vissem o outro lado da
questão, porque existe um outro lado da questão.
Quando
falei em métodos alternativos, fui infeliz, pois não se tratam
de métodos alternativos, são na verdade métodos substitutivos.
Já existe tecido cultivado, a vacina feita em vitro, etc. O meu
raciocínio é anti-cartesiano. E já vou responder a nossa nobre,
doce e meiga Pastora Márcia Teixeira. Eu me recuso a acreditar
em um raciocínio cartesiano, que diz que Deus colocou o animal
no mundo para servir o homem. Eu me recuso! Descartes é uma das
pessoas de quem eu menos gosto no mundo! Há métodos
alternativos, há métodos substitutivos, e eu tenho certeza que
Jesus Cristo, hoje, jamais aceitaria o sacrifício de pombos,
ovelhas, cordeiros, ou virgens, em nome da religião. As coisas
evoluíram, embora muitas tenham involuído, infelizmente. Mas o
mundo, como a ciência, evoluiu…
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Então eu gostaria muito que os senhores, aqui, no dia 20, às 10
horas, participassem de uma audiência pública, ou de um debate
público, onde cientistas mostrarão o outro lado da questão. Dia
20 espero contar com todos.
Eu tenho
a certeza que vários senhores, mesmo aqueles que não são
botafoguenses, … devem ter lido o livro de Ruy Castro
“Estrela Solitária”, sobre o Garrincha. O genial
Mané Garrincha ainda morava em Pau Grande, com sua primeira
família quando convidou algumas pessoas para conhecer sua
humilde casa. As pessoas chegaram e começaram a ficar
horrorizadas com o número de baratas que saíam pelas paredes e
passavam pelo chão. Ele disse: “Poxa vida, vocês estão
chateados com as baratas? Ontem eu matei mais de 150!”
Garrincha tinha matado mais de 150 baratas para preparar a casa
para as visitas do Rio de Janeiro.
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a visita de quinta-feira à Fiocruz e a UFRJ é uma palhaçada. Eu
nunca ouvi falar de uma inspeção em um quartel, anunciada: -
“Olha, amanhã o Comandante vai visitar esse
quartel.”
Eu duvido
que esse Comandante encontre um coturno que não esteja
absolutamente engraxado, uma fivela que não esteja brilhando,
uma barba por fazer ou um catre que não esteja muito bem
arrumado. Porque o que vai acontecer na quinta-feira é que os
Senhores, cheios de boas intenções, vão encontrar... o que os
cientistas querem que vocês encontrem. Eu sei, eu tenho, alguns
esconderijos que eles não vão mostrar ao Senhores. Não vão. Eu
dou até o local, a porta, a ala, o corredor. Eles não vão
mostrar. É que nem o Garrincha com as baratas. É que nem a
inspeção no quartel. Eles não vão. Essa visita vai ser
inútil.
Vai ser
também inócua. Os Senhores vão sair de lá com a impressão de
que a Fiocruz, que o Fundão, são o paraíso para os
animais.
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Eu vou falar um pouquinho de sexismo, de racismo, e de
especismo.
Quando as
mulheres pediram para votar foi uma gritaria geral, foi uma
gargalhada geral, era ridículo uma mulher votar.
Hoje as
mulheres votam, governam - algumas não muito bem.
Quando
havia a escravidão e surgiram alguns abolicionistas, eles eram
a grande piada. Querem o abolicionismo? Mas o negro não tem
alma, o negro foi feito para trabalhar, é para isso que ele
existe, por isso que ele é forte…
E, hoje
em dia, vemos o que acontece, hoje em dia existe uma relação de
igualdade sexual, racial. Todas as raças são iguais.
Entao, eu
chego ao especismo:
- porque
é que uma espécie é superior à outra?
- porque
é que o homem é dono do Universo?
- porque
é que o homem pode matar para comer?
- porque
é que o Homem pode explorar os animais para o seu descanso
e para o seu trabalho?
- porque
é que o homem pode pegar seja qual for o animal, do rato de
laboratório que é criado lá dentro, que nunca vê a luz do
dia, é feito única e exclusivamente para a pesquisa de
laboratório, que não leva a nada, não sou eu que estou
dizendo, quem diz é uma centena de cientistas que provam -
eles sim, provam - eu não provo nada, eu só repito - eles
provam, que nunca houve uma cura real que partisse do
animal para o ser humano. As curas do ser humano foram
obtidas através do estudo do ser humano. Um comprimido de
aspirina mata um coelho e cura a sua dor de
cabeça. Vivissecção quer dizer cortar animal vivo. Quando a
nobre Vereadora, Andrea Gouvea Vieira, fez um grupo de
estudo a respeito disso, os cientistas argumentaram: o que
é que esse Vereador está querendo? Então nós não podemos
mais operar o nosso cachorro quando está doente? Abrir um
cachorro vivo seria, em última análise, vivissecção. Mas
não é a essa etimológica vivissecção que me refiro. Me
refiro à vivissecção que está mostrada aqui nestes DVDs,
nestas fitas, sem anestesia, o animal sofre, grita, e está
manietado, ele está lá preso, ele não pode se defender. As
experiências de laboratório ainda existem - só não existem
em Palermo, na Itália, - e agora, depois daqueles 26 votos,
aqui, não existiriam, no Rio de Janeiro.
Eu
pediria o mínimo de coerência aos colegas que votaram contra a
vivissecção…
Então, o
olho do coelho é arrancado para que uma substância seja
injetada para que o pesquisador, ou cientista, veja quanto
tempo aquele animal pula, grita, estertora e morre, para ver se
aquele produto pode ser usado, e em que quantidade, para o
rimel de uma Senhora e - dependendo de uma opção - de um
Senhor. Existe todo um estudo sobre bronzeadores e para isso é
feito o teste Drase. Drase inventou um maçarico que queima o
animal vivo para ver por quanto tempo ele resisite à dor, para
ver se aquela substância pode ser usada em bronzeadores ou
bolqueadores de sol.
Eu
poderia dar centenas de exemplos, mas a minha voz é muito fraca
para chegara a todos vocês conforme eu gostaria.
Eu não
consegui chegar nem aos meus colegas de Bancada.
Eu
gostaria muito que os Senhores se interessassem, pelo menos -
no dia 20, eu já sei que infelizmente não posso contar com a
presença de todos os Senhores Vereadores. Vocês seriam
fundamentais. Eu gostaria que todos estivessem
presentes…
Na outra
reunião eram 16 pesquisadores contra mim, em última análise, e
alguns colegas assistiram. Agora estou abrindo um Debate
Público. As pessoas do Fundão, da UFRJ, da Fiocruz, vão estar
aqui, vão se inscrever e vão falar. E as pessoas tambem que
defendem o fim da vivissecção vão estar aqui e também vão
falar. Vai haver um debate. Vai haver embates, sem dúvida
nenhuma, mas vai haver um diálogo. É importante que as pessoas
cheguem à uma conclusão houvindo os dois lados.
…
Então, para encerrar, eu gostaria de deixar bem claro …
que essa visita de quinta-feira é inútil, é inócua e, como eu
disse que é, uma palhaçada.
Não é uma
palhaçada nossa, de nós que vamos lá para ver as condições em
que são mantidos os animais.
A
palhaçada é deles, a cara-de-pau é deles: venham ver como a
minha casa só está com 23 baratas. Ontem eu matei
200.
Venham
ver como o meu quartel é impecável. É porque avisaram que o
Comandante ia lá fazer a inspeção.
Então, o
que vai acontecer é isso: vocês vão ver bichinhos muito bem
tratados. Mas vocês não vão ver, atrás das portas fechadas,
ratos com corações implantados na cabeça, para que haja um
estudo sobre a reação do coração a um barulho ou a um choque.
Vocês não vão ver os animais que estão lá submetidos a testes
de loucura: vamos levar esse animal à loucura, para ver quanto
tempo ele leva para ficar louco. Vamo fazer LD-50. Vamos botar
50 macacos e vamos dar uma vacina cada vez mais, cada vez mais,
para ver 50%. Quando tiverem morrido 50% está no ponto exato da
vacina poder ser usada por um ser humano, que vai ser o
primeiro realmente a testar essa vacina, porque por enquanto
ela não foi testada, por enquanto os pesquisadores, os
professores, os cientistas, estão fazendo jus à verba que eles
recebem para isso. Isso é o estudo dos males, das moléstias,
das mazelas humanas em animais.
Falei com
o coração, falei com tudo o que eu aprendi e continuo
aprendendo, e uso uma frase - quando me perguntam porque é que
eu sou vegetariano, porque é que eu não como nada que tenha
tido cara, se teve cara, eu não como, então, me perguntam, por
que, e por que, eu sempre me bato nesse ponto, a defesa dos
direitos dos animais, e não só a defesa dos animais, a defesa
dos direitos dos animais - eu digo: eu vou falar e vou
continuar falando porque centenas de pessoas, milhares de
pessoas podem me ouvir, e se um menino pegar o seu estiligue,
seu bodoque, e jogar fora, e não matar mais nenhum
passarinho, eu terei chegado aonde eu queria chegar, aonde eu
queria chegar.
Muito
obrigado a todos.