Cláudio Cavalcanti
 
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"Crescer amando os animais é aprender a compaixão e o respeito por todas as formas de vida"

 

Pronunciamento do Vereador Cláudio Cavalcanti contra a experimentação animal em plenário da Câmara dos Vereadores em 06 de junho de 2006

 

… eu trouxe hoje estes dois DVDs para mostrar, na Sala da Presidência, aos colegas da bancada do PFL, aqueles colegas que não apareceram, que não deram importância a isto aqui. Não peço, de maneira alguma, se bem que merecesse, que acreditem em minhas palavras. Eu gostaria que todos assistissem a estes DVDs, onde há declarações de cientistas de todas nacionalidades, falando da inoquidade, da inutilidade, para não falar na crueldade, na desumanidade, enfim, todas estas coisas que só enfraquecem qualquer tipo de discurso neste tipo de assunto. Gostariam muito que os senhores vissem o outro lado da questão, porque existe um outro lado da questão.

Quando falei em métodos alternativos, fui infeliz, pois não se tratam de métodos alternativos, são na verdade métodos substitutivos. Já existe tecido cultivado, a vacina feita em vitro, etc. O meu raciocínio é anti-cartesiano. E já vou responder a nossa nobre, doce e meiga Pastora Márcia Teixeira. Eu me recuso a acreditar em um raciocínio cartesiano, que diz que Deus colocou o animal no mundo para servir o homem. Eu me recuso! Descartes é uma das pessoas de quem eu menos gosto no mundo! Há métodos alternativos, há métodos substitutivos, e eu tenho certeza que Jesus Cristo, hoje, jamais aceitaria o sacrifício de pombos, ovelhas, cordeiros, ou virgens, em nome da religião. As coisas evoluíram, embora muitas tenham involuído, infelizmente. Mas o mundo, como a ciência, evoluiu…

… Então eu gostaria muito que os senhores, aqui, no dia 20, às 10 horas, participassem de uma audiência pública, ou de um debate público, onde cientistas mostrarão o outro lado da questão. Dia 20 espero contar com todos.

Eu tenho a certeza que vários senhores, mesmo aqueles que não são botafoguenses, … devem ter lido o livro de Ruy Castro “Estrela Solitária”, sobre o Garrincha. O genial Mané Garrincha ainda morava em Pau Grande, com sua primeira família quando convidou algumas pessoas para conhecer sua humilde casa. As pessoas chegaram e começaram a ficar horrorizadas com o número de baratas que saíam pelas paredes e passavam pelo chão. Ele disse: “Poxa vida, vocês estão chateados com as baratas? Ontem eu matei mais de 150!” Garrincha tinha matado mais de 150 baratas para preparar a casa para as visitas do Rio de Janeiro.

… a visita de quinta-feira à Fiocruz e a UFRJ é uma palhaçada. Eu nunca ouvi falar de uma inspeção em um quartel, anunciada: - “Olha, amanhã o Comandante vai visitar esse quartel.”

Eu duvido que esse Comandante encontre um coturno que não esteja absolutamente engraxado, uma fivela que não esteja brilhando, uma barba por fazer ou um catre que não esteja muito bem arrumado. Porque o que vai acontecer na quinta-feira é que os Senhores, cheios de boas intenções, vão encontrar... o que os cientistas querem que vocês encontrem. Eu sei, eu tenho, alguns esconderijos que eles não vão mostrar ao Senhores. Não vão. Eu dou até o local, a porta, a ala, o corredor. Eles não vão mostrar. É que nem o Garrincha com as baratas. É que nem a inspeção no quartel. Eles não vão. Essa visita vai ser inútil.

Vai ser também inócua. Os Senhores vão sair de lá com a impressão de que a Fiocruz, que o Fundão, são o paraíso para os animais.

… Eu vou falar um pouquinho de sexismo, de racismo, e de especismo. 

Quando as mulheres pediram para votar foi uma gritaria geral, foi uma gargalhada geral, era ridículo uma mulher votar.

Hoje as mulheres votam, governam - algumas não muito bem.

Quando havia a escravidão e surgiram alguns abolicionistas, eles eram a grande piada. Querem o abolicionismo? Mas o negro não tem alma, o negro foi feito para trabalhar, é para isso que ele existe, por isso que ele é forte…

E, hoje em dia, vemos o que acontece, hoje em dia existe uma relação de igualdade sexual, racial. Todas as raças são iguais.

Entao, eu chego ao especismo:

  • porque é que uma espécie é superior à outra?
  • porque é que o homem é dono do Universo?
  • porque é que o homem pode matar para comer?
  • porque é que o Homem pode explorar os animais para o seu descanso e para o seu trabalho?
  • porque é que o homem pode pegar seja qual for o animal, do rato de laboratório que é criado lá dentro, que nunca vê a luz do dia, é feito única e exclusivamente para a pesquisa de laboratório, que não leva a nada, não sou eu que estou dizendo, quem diz é uma centena de cientistas que provam - eles sim, provam - eu não provo nada, eu só repito - eles provam, que nunca houve uma cura real que partisse do animal para o ser humano. As curas do ser humano foram obtidas através do estudo do ser humano. Um comprimido de aspirina mata um coelho e cura a sua dor de cabeça. Vivissecção quer dizer cortar animal vivo. Quando a nobre Vereadora, Andrea Gouvea Vieira, fez um grupo de estudo a respeito disso, os cientistas argumentaram: o que é que esse Vereador está querendo? Então nós não podemos mais operar o nosso cachorro quando está doente? Abrir um cachorro vivo seria, em última análise, vivissecção. Mas não é a essa etimológica vivissecção que me refiro. Me refiro à vivissecção que está mostrada aqui nestes DVDs, nestas fitas, sem anestesia, o animal sofre, grita, e está manietado, ele está lá preso, ele não pode se defender. As experiências de laboratório ainda existem - só não existem em Palermo, na Itália, - e agora, depois daqueles 26 votos, aqui, não existiriam, no Rio de Janeiro.

Eu pediria o mínimo de coerência aos colegas que votaram contra a vivissecção…

Então, o olho do coelho é arrancado para que uma substância seja injetada para que o pesquisador, ou cientista, veja quanto tempo aquele animal pula, grita, estertora e morre, para ver se aquele produto pode ser usado, e em que quantidade, para o rimel de uma Senhora e - dependendo de uma opção - de um Senhor. Existe todo um estudo sobre bronzeadores e para isso é feito o teste Drase. Drase inventou um maçarico que queima o animal vivo para ver por quanto tempo ele resisite à dor, para ver se aquela substância pode ser usada em bronzeadores ou bolqueadores de sol.

Eu poderia dar centenas de exemplos, mas a minha voz é muito fraca para chegara a todos vocês conforme eu gostaria.

Eu não consegui chegar nem aos meus colegas de Bancada.

Eu gostaria muito que os Senhores se interessassem, pelo menos - no dia 20, eu já sei que infelizmente não posso contar com a presença de todos os Senhores Vereadores. Vocês seriam fundamentais. Eu gostaria que todos estivessem presentes…

Na outra reunião eram 16 pesquisadores contra mim, em última análise, e alguns colegas assistiram. Agora estou abrindo um Debate Público. As pessoas do Fundão, da UFRJ, da Fiocruz, vão estar aqui, vão se inscrever e vão falar. E as pessoas tambem que defendem o fim da vivissecção vão estar aqui e também vão falar. Vai haver um debate. Vai haver embates, sem dúvida nenhuma, mas vai haver um diálogo. É importante que as pessoas cheguem à uma conclusão houvindo os dois lados.

… Então, para encerrar, eu gostaria de deixar bem claro … que essa visita de quinta-feira é inútil, é inócua e, como eu disse que é, uma palhaçada.

Não é uma palhaçada nossa, de nós que vamos lá para ver as condições em que são mantidos os animais.

A palhaçada é deles, a cara-de-pau é deles: venham ver como a minha casa só está com 23 baratas. Ontem eu matei 200.

Venham ver como o meu quartel é impecável. É porque avisaram que o Comandante ia lá fazer a inspeção.

Então, o que vai acontecer é isso: vocês vão ver bichinhos muito bem tratados. Mas vocês não vão ver, atrás das portas fechadas, ratos com corações implantados na cabeça, para que haja um estudo sobre a reação do coração a um barulho ou a um choque. Vocês não vão ver os animais que estão lá submetidos a testes de loucura: vamos levar esse animal à loucura, para ver quanto tempo ele leva para ficar louco. Vamo fazer LD-50. Vamos botar 50 macacos e vamos dar uma vacina cada vez mais, cada vez mais, para ver 50%. Quando tiverem morrido 50% está no ponto exato da vacina poder ser usada por um ser humano, que vai ser o primeiro realmente a testar essa vacina, porque por enquanto ela não foi testada, por enquanto os pesquisadores, os professores, os cientistas, estão fazendo jus à verba que eles recebem para isso. Isso é o estudo dos males, das moléstias, das mazelas humanas em animais.

Falei com o coração, falei com tudo o que eu aprendi e continuo aprendendo, e uso uma frase - quando me perguntam porque é que eu sou vegetariano, porque é que eu não como nada que tenha tido cara, se teve cara, eu não como, então, me perguntam, por que, e por que, eu sempre me bato nesse ponto, a defesa dos direitos dos animais, e não só a defesa dos animais, a defesa dos direitos dos animais - eu digo: eu vou falar e vou continuar falando porque centenas de pessoas, milhares de pessoas podem me ouvir, e se um menino pegar o seu estiligue, seu bodoque, e jogar fora, e não matar mais nenhum passarinho, eu terei chegado aonde eu queria chegar, aonde eu queria chegar.

Muito obrigado a todos.


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