"Crescer amando os
animais é aprender a compaixão e o respeito por todas as formas
de vida"
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NÃO COMO NADA
QUE TENHA TIDO CARA:
SOU VEGETARIANO
Todos
sabemos que a carne faz mal à saúde. Todos sabemos que a
pecuária e os pastos destroem o meio-ambiente. Mas o motivo que
me faz radicalmente vegetariano é a impossibilidade de aceitar
que se mate um animal para comer.
Reconheço
que é difícil vencer as tradições e uma cultura que se baseia
na exploração e no sofrimento dos animais . O churrasco, os
perus assados, os peixes recheados, as linguiças feitas de
sangue, os presuntos com frutas e fios d'ovos, os blinis au
caviar, os petit-fours com paté de foie gras, os tenros filets
de vitelas, ou mesmo um simples cachorro-quente ou hamburguer,
estão ancestralmente associados à festa, a reuniões de família,
a Natal, a requinte, a fartura, ou simplesmente à saciedade,
enfim, à alegria e ao prazer.
Mas basta
que se pense que aquelas "iguarias" são fruto da matança, do
sangue, do berro de dor, do pavor, da tortura, do pânico,
enfim, do sofrimento dos animais, para que tudo fique reduzido
a uma sinistra e repugnante evidência da inconsciência em que
se baseiam nossa tradições.
Da mesma forma o couro, as peles, os óculos de tartaruga e uma
lista de produtos que enfeitam ou agasalham vêm da dor e do
sofrimento dos animais.
Tenho uma
certeza absoluta.
Nada
justifica a tortura.
Seja ela
para alimentar o mito da saúde perfeita, através das
experiencências feitas com animais. Seja ela para proporcionar
qualquer tipo de prazer estético. Seja ela para "deliciar" o
paladar
E aqui
dou o meu testemunho:
Quando se
é vegetariano, nossa acuidade de paladar se transforma, se
aguça a tal ponto, que passamos a ser capazes de distinguir o
gosto do animal morto até mesmo num molho que aparentemente é
apenas de tomate.
Não julgo
ninguem, não emito julgamentos morais, não gosto de
controvérsias, mas confesso que sinto imediata e profunda
identificação - uma identificação que dispensa palavras,
discursos e pregações - por aqueles que não comem seres
vivos.
E faço
mais uma confissão: se eu comesse animais, nada me impediria de
comer seres humanos.
CLÁUDIO
CAVALCANTI
NÃO
MATARÁS!
Dedico este texto:
- a todos os bichos;
- a algumas crianças - as que ainda não foram contaminadas pelo
predador que existe nelas e ao redor delas;
- a alguns adultos - os que são capazes de compaixão ;
- ao futuro e aos depositários de minha esperança, minha neta
Eduarda - Raio de Sol, minha filha Lucia - minha obra de arte,
meu genro, Carlos Eduardo - competente co-produtor;
- ao passado e às minhas fontes de amor e segurança - nas quais
bebo e me apoio até hoje: minha
mãe, Helena, pela beleza, pela arte, pela coragem, pela
elegância em todos os momentos , e pela leoa que foi na defesa
do que achava melhor para mim. Por ter introduzido a música na
minha vida; minha babá-anjo-da-guarda Luzia, nosso ninho, que
tratava de todos nós e acolhia todos os nossos bichos, quanto
maior a ferida, maior a dedicação; meu pai, Ivo, pela sutileza,
pela cultura, e pela delicadeza com que me revelou o mundo e
quase todas as línguas que existem nele; meu dodô, Torquato,
que fez mágica; minha tia-madrinha Lourdes, que era fada;
minha Maria
Aparecida, que era Papai-Noel; às minhas mestras Lya
Cavalcanti, Nise da Silveira e Nina Verchinina, por quem tive o
privilégio de ser amada; e
- ao meu príncipe-amante-marido, Cláudio - irmão nos bichos e
há 30 anos parceiro de todas as venturas, aventuras e
travessuras, incluída nelas a maior de todas: a exibição
despudorada de coragem moral - por ter provado que mágica é
realidade e que a vida vale a pena.
Minha história com bichos é igual a da maioria das crianças.
Lendo Guimarães Rosa, no conto "A Margem da Alegria", nada mais
precisa ser escrito ou dito sobre o assunto. Só que comigo a
coisa começou antes da consciência. Aos 3 meses, quando me foi
dada a primeira papa que continha carne, vomitei. Pânico,
médicos, constatação de intolerância natural à carne. A
intolerância foi respeitada.
E, tive a benção de nascer entre amantes de animais. Meus pais
o eram de forma visceral. Com o passar do tempo, naturalmente
selecionadas pelas afinidades, as pessoas que privavam conosco,
todas, o eram também.
Parafraseando o Rosa, como eu tinha nascido com "tabique fino",
a partir da tomada de consciência do que acontecia para que as
mesas fossem postas e as pessoas alimentadas, as cozinhas todas
- menos as nossas - passaram a ser lugares repugnantes,
malditos, lúgubres, sinistros, onde havia sofrimento e
mistério: ali se matavam bichos. Ali o mais forte destruía o
mais fraco. Ali se enganava. Ali se berrava de dor. Ali corria
sangue e o sangue virava molho. O cheiro da comida passou a se
identificar com a morte. Cozinha passou a ser sinônimo de
assassinato.
Nas ruas, os açougues eram a prova cabal e penetrante do
assassinato coletivo, consentido e lucrativo. Bichos mágicos,
iguais aos que eu admirava, acarinhava e tocava, eram exibidos
mortos, esfolados, pendurados em ganchos de cabeça para baixo.
Pedaços enormes de carne com ossos aparecendo eram carregados
nas costas de homens, sujos de sangue. E o cheiro nem era mais
de sangue. E nem era mais cheiro. Era fedor. O fedor da
podridão. O fedor da putrefação. Eu não podia fazer reviver
aqueles bichos. Eu pedia para atravessar a rua. Eu era
atendida.
A matança de animais era a minha "margem de alegria".
Hoje nossas cozinhas precisam não parecer cozinhas. Têm
espelhos nas paredes e abat-jour. Na nossa casa, como repete
sempre o meu marido sob olhares perplexos, "não se come nada
que tenha tido cara". Nem camarão? Nem camarão!
MARIA
LUCIA FROTA CAVALCANTI
Links
vegetarianos:
Brasil
www.veddas.org.br
www.sejavegetariano.com.br
www.guiavegano.com.br
www.daceres.com.br
Inglaterra
www.vegansociety.com
EUA
www.goveg.com
www.meat.org
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